O congelamento de preços e a inflação

Congelamento de preços. Um tema que poderia estar enterrado nos anos 80, voltou à tona com força nas últimas semanas.
O motivo? A alta no preço dos alimentos básicos como arroz, óleo de soja e açúcar.
Segundo o IBGE, houve uma alta de 0,24% na inflação do país em agosto. Essa é a maior taxa registrada do mês desde 2016.
Nos últimos 12 meses, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) apontou um aumento de 8,83% no preço dos alimentos
Mas por que a comida está tão cara?
Essa alta no preço dos alimentos pode ser relacionada a dois fatores: desvalorização cambial e aumento do consumo interno.
A desvalorização cambial interfere no preço de duas maneiras: a primeira é que nossas commodities ficam mais atrativas para serem exportadas.
A segunda é que os insumos agrícolas muitas vezes são importados e, por isso, o custo de produção também aumenta.
Fora o câmbio, a lei da oferta e procura também tem a sua participação. Afinal, as pessoas aumentaram os estoques de alimentos.
Com medo do futuro, muita gente passou a comprar mais alimentos para o lar, principalmente com receio de faltar.
E como o auxílio emergencial evitou uma queda maior na renda das famílias, ele também foi responsável pelo aumento do consumo de alimentos.
Esse conjunto de fatores fez o preço dos alimentos básicos aumentarem. Mas, o que fazer agora?
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O congelamento de preços pode resolver o problema?
Recentemente, o presidente da república, Jair Bolsonaro, chegou a pedir “patriotismo” dos donos de supermercado.
A Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), ligada ao ministério da Justiça, questionou a alta no valor dos produtos.
Mas, o que precisamos entender é que qualquer interferência governamental sobre a lei da oferta e procura pode gerar danos piores.
Há uma falsa crença de que as empresas estejam, portanto, sendo gananciosas. Claro que há a ganância, mas isso não é o fator determinante para a alta de preços.
Com o aumento do câmbio há, desse modo, uma maior procura no mercado externo. E os insumos importados pressionam o custo e, consequentemente, os preços no mercado interno.
Sem a possibilidade de aumentar a produção diante de um aumento da demanda, o preço sobe. Isso é uma lei natural.
Se o governo congelar preços sabe o que irá acontecer? Haverá um desabastecimento do produto.
Sem lucro, os empresários deixam de produzir e vender o alimento.
No longo prazo os preços disparam. E a inflação galopante volta.
Portanto, acreditar que o congelamento de preços poderá resolver o problema é mera ilusão.
E o que pode ser feito para conter a inflação?
Para conter a pressão inflacionária, o governo pode, contudo, adotar algumas medidas. Assim como a própria população.
Uma delas é zerar a tarifa de importação de alguns alimentos para aumentar a oferta interna.
A outra é diminuir gastos públicos, desestimulando o consumo.
A população poderá também substituir os alimentos. Como resultado, a demanda diminui. Consequentemente, o preço também.
A história econômica mostra, portanto, que o mercado é capaz de se reequilibrar. Embora muitas vezes haja a necessidade de incentivos governamentais.
Mas, esses incentivos precisam vir através da redução de impostos de alguns produtos e aumento de impostos de outros. Para equilibrar a oferta e procura.
Congelar o preço é o mesmo que congelar o lucro. E isso representa, portanto, tirar o custo de oportunidade do investidor.
As consequências, todos sabemos. Basta voltar para 1987.
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