sexta-feira, abril 26, 2024

O congelamento de preços pode resolver o problema da inflação?

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O congelamento de preços e a inflação

congelamento de preços

Congelamento de preços. Um tema que poderia estar enterrado nos anos 80, voltou à tona com força nas últimas semanas.

O motivo? A alta no preço dos alimentos básicos como arroz, óleo de soja e açúcar. 

Segundo o IBGE, houve uma alta de 0,24% na inflação do país em agosto. Essa é a maior taxa registrada do mês desde 2016.

Nos últimos 12 meses, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) apontou um aumento de 8,83% no preço dos alimentos

Mas por que a comida está tão cara?

Essa alta no preço dos alimentos pode ser relacionada a dois fatores: desvalorização cambial e aumento do consumo interno.

A desvalorização cambial interfere no preço de duas maneiras: a primeira é que nossas commodities ficam mais atrativas para serem exportadas.

A segunda é que os insumos agrícolas muitas vezes são importados e, por isso, o custo de produção também aumenta.

Fora o câmbio, a lei da oferta e procura também tem a sua participação. Afinal, as pessoas aumentaram os estoques de alimentos.

Com medo do futuro, muita gente passou a comprar mais alimentos para o lar, principalmente com receio de faltar.

E como o auxílio emergencial evitou uma queda maior na renda das famílias, ele também foi responsável pelo aumento do consumo de alimentos.

Esse conjunto de fatores fez o preço dos alimentos básicos aumentarem. Mas, o que fazer agora?


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O congelamento de preços pode resolver o problema?

Recentemente, o presidente da república, Jair Bolsonaro, chegou a pedir “patriotismo” dos donos de supermercado. 

A Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), ligada ao ministério da Justiça, questionou a alta no valor dos produtos.

Mas, o que precisamos entender é que qualquer interferência governamental sobre a lei da oferta e procura pode gerar danos piores.

Há uma falsa crença de que as empresas estejam, portanto, sendo gananciosas. Claro que há a ganância, mas isso não é o fator determinante para a alta de preços.

Com o aumento do câmbio há, desse modo, uma maior procura no mercado externo. E os insumos importados pressionam o custo e, consequentemente, os preços no mercado interno.

Sem a possibilidade de aumentar a produção diante de um aumento da demanda, o preço sobe. Isso é uma lei natural.

Se o governo congelar preços sabe o que irá acontecer? Haverá um desabastecimento do produto.

Sem lucro, os empresários deixam de produzir e vender o alimento.

No longo prazo os preços disparam. E a inflação galopante volta.

Portanto, acreditar que o congelamento de preços poderá resolver o problema é mera ilusão.

E o que pode ser feito para conter a inflação?

Para conter a pressão inflacionária, o governo pode, contudo, adotar algumas medidas. Assim como a própria população.

Uma delas é zerar a tarifa de importação de alguns alimentos para aumentar a oferta interna.

A outra é diminuir gastos públicos, desestimulando o consumo.

A população poderá também substituir os alimentos. Como resultado, a demanda diminui. Consequentemente, o preço também.

A história econômica mostra, portanto, que o mercado é capaz de se reequilibrar. Embora muitas vezes haja a necessidade de incentivos governamentais.

Mas, esses incentivos precisam vir através da redução de impostos de alguns produtos e aumento de impostos de outros. Para equilibrar a oferta e procura.

Congelar o preço é o mesmo que congelar o lucro. E isso representa, portanto, tirar o custo de oportunidade do investidor.

As consequências, todos sabemos. Basta voltar para 1987.

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José Carlos Sanchez Júnior
José Carlos Sanchez Júnior
José Carlos é escritor e redator com formação acadêmica em Administração de Empresas e MBA em Gestão Financeira Controladoria e Auditoria formado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

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