Inflação em 2020

Esse ano você perdeu poder de compra? Parece que, do nada, tudo ficou mais caro? A inflação saiu mesmo do controle?
Essas perguntas são feitas por muitas pessoas. Afinal, neste ano, algumas classes sociais sentiram na pele os efeitos de uma inflação concentrada.
Mas, por que a inflação acumulada dos últimos 12 meses divulgada pelo IBGE é de apenas 4,31% se tudo parece ter subido muito mais do que isso?
Quer entender o por quê? Então continue por aqui mais três minutinhos.
Como a inflação é calculada?
Para entender porque a inflação oficial está menor do que parece, é preciso entender o seu cálculo. Em linhas gerais, o principal índice que mede a inflação no país é o IPCA, chamado de Índice de Preço ao Consumidor Amplo.
No mês de novembro, ele foi de 0,89%, e nos últimos 12 meses está acumulado em apenas 4,31%. Como o centro da meta de inflação para 2020 foi de 3,75%, podemos dizer que ela está controlada.
Para chegar nesse resultado, o IBGE faz um comparativo de preço todos os meses de milhares de itens distribuídos em nove categorias. Cada uma delas possui um respectivo peso no orçamento de famílias que ganham de 0 a 40 salários mínimos. São elas:
- Alimentação e Bebidas – Peso de 23,12% no orçamento;
- Artigos de residência – Peso de 4,69% no orçamento;
- Transportes – Peso de 20,54%;
- Comunicação – Peso de 4,96%;
- Despesas pessoais – Peso de 9,94%;
- Habitação – Peso de 14,62%;
- Saúde e Cuidados Pessoais – Peso de 11,09%;
- Vestuário – Peso de 6,67%;
- Educação – Peso de 4,37%.
Portanto, é analisado pelo índice a variação do preço de diversos itens dentro dessas categorias, e depois aplicado o seu respectivo peso.
O grande problema, é que esse peso nem sempre é igual para todas as classes sociais. Ele é uma média, e por isso algumas classes sentem mais o aumento de preços em algumas categorias.
Por que ela parece estar tão alta?
Vamos agora ao ponto. De modo geral, a inflação parece controlada, mas ela se concentrou em alguns setores, como alimentação, por exemplo.
Os itens de supermercado tiveram uma inflação acumulada de 9,37% nos últimos doze meses. Sendo que os alimentos básicos como arroz chegaram a subir 59,48%.
Nas famílias de baixa renda, o supermercado representa um peso bem maior no orçamento do que o considerado pelo IPCA, por isso essas famílias sentem uma inflação maior.
Só para ilustrar, a inflação de artigos de vestuário foi de -1,77% nos últimos doze meses. Porém, diante da perda de renda, a camada mais vulnerável não faz compras de roupas. Ou seja, esse item não tem peso real no orçamento.
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Então o motivo da inflação parecer maior é a concentração dela?
Sim. A inflação parece ser muito maior, porque ela está mais concentrada na categoria de alimentação, que tem maior peso no orçamento de grande parte da população.
Por isso, esse tipo de inflação é bastante prejudicial, pois ela aumenta a desigualdade social dentro do país. Uma inflação boa é aquela dentro da meta, mas distribuída igualmente entre todas as categorias. O que não aconteceu no ano de 2020.
Em resumo, fatores como a desvalorização do câmbio e a corrida por estocar alimentos colaboraram para essa concentração da inflação no setor de alimentos.
Afinal, a corrida por alimentos fez aumentar a demanda, e o câmbio favorável, tornou mais atrativo a exportação de commodities, diminuindo a oferta.
Com mais demanda e menos oferta, a consequência imediata foi o aumento de preços que foi sentido por grande parte da população.
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